“The Calling of St Matthew” um exemplo vibrante de tenebrismo e narrativa dinâmica!
No panorama artístico da Inglaterra Tudor, onde a arte religiosa florescia sob o olhar atento da monarquia, emerge um artista singular: Quentin Matsys. Enquanto seus contemporâneos se dedicavam principalmente à pintura retratística e paisagística, Matsys buscava retratar histórias bíblicas com uma intensidade dramática sem precedentes.
Sua obra-prima, “The Calling of St Matthew,” captura esse espírito com maestria. Pintada por volta de 1490, a tela a óleo sobre madeira, atualmente exposta na Galeria Nacional de Londres, apresenta uma cena rica em detalhes e simbolismo.
A narrativa central, baseada no Evangelho de Mateus, retrata o momento em que Jesus Cristo chama Mateus para se tornar um dos seus discípulos. A composição é dinâmica, com figuras dispostas diagonalmente, criando um movimento que guia o olhar do observador para o centro da tela: Cristo apontando o dedo para Mateus, sentado à mesa numa posição humilde, mas atenta.
O uso da luz e sombra, técnica conhecida como tenebrismo, confere à cena uma atmosfera quase teatral. Os rostos dos personagens são iluminados por um feixe de luz que surge do lado esquerdo da tela, destacando suas expressões e emoções. A escuridão envolvente intensifica o drama do momento, criando uma sensação de mistério e expectativa.
Mas a genialidade de Matsys não se limita ao domínio técnico. A composição também revela uma profunda compreensão psicológica das personagens. O olhar intenso de Cristo transmite firmeza e autoridade divina, enquanto Mateus demonstra surpresa e incerteza. Os outros personagens, sentados à mesa, reagem com curiosidade ou desconfiança, ilustrando a diversidade de emoções diante do chamado divino.
Para entender melhor a riqueza da obra, analisemos alguns detalhes:
- Os detalhes minuciosos: Observe como Matsys retrata cada objeto com precisão e realismo, desde os pratos de comida até o manto de Cristo. Esses detalhes contribuem para criar uma atmosfera autêntica e convincente.
- A linguagem corporal: A postura ereta de Cristo contrasta com a posição inclinada de Mateus, evidenciando a disparidade de poder entre o divino e o humano. Os gestos das mãos também são carregados de significado: Cristo aponta diretamente para Mateus, enquanto este segura uma bolsa de dinheiro, simbolizando sua vida anterior como cobrador de impostos.
- Os elementos simbólicos: A janela aberta no fundo da cena pode representar a oportunidade que se abre para Mateus, enquanto o cachorro debaixo da mesa simboliza a fidelidade e a lealdade.
Matsys não apenas retratou um evento bíblico; ele criou uma obra de arte que convida à reflexão sobre temas universais como a fé, a convocação e a transformação pessoal.
Comparação com outros artistas:
| Artista | Estilo | Obras principais |
|---|---|---|
| Albrecht Dürer | Renascentista | “Auto-retrato” (1500), “Oração de São Jerônimo” (1492) |
| Hieronymus Bosch | Surrealista | “O Jardim das Delícias” (c. 1503-1515), “A Tentação de Santo Antão” (c. 1501) |
| Hans Holbein, o Jovem | Retratista | “Os Embaixadores” (1533), “Retrato de Henrique VIII” (c. 1537) |
Embora Matsys compartilhasse da estética renascentista, sua obra possui um caráter único que o diferencia de outros artistas da época. Enquanto Dürer se concentrava em detalhes anatômicos e perspectivas precisas, Matsys se dedicava à representação dramática de cenas bíblicas.
Matsys não era apenas um pintor habilidoso; ele era um contador de histórias excepcional. Através de “The Calling of St Matthew”, ele nos convida a entrar em uma narrativa que transcende o tempo e o espaço, questionando a natureza da fé e a transformação do ser humano diante do divino.
Uma obra para a eternidade:
“The Calling of St Matthew” é uma obra-prima que continua a inspirar e fascinar espectadores até hoje. Sua intensidade dramática, a riqueza de detalhes e a profundidade psicológica das personagens tornam essa tela um exemplo notável da arte renascentista em Inglaterra.
Para aqueles que buscam compreender o impacto da arte religiosa no período Tudor, a obra de Matsys é um ponto de partida essencial. Através dela, podemos vislumbrar a fé fervilhante da época e a busca pela transcendência através da arte.